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DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA, uma responsabilidade (e uma dívida histórica) de todos e todas.

  • cac4459
  • 20 de nov. de 2021
  • 5 min de leitura

Entrevistamos Edson Lau, Coordenador da Setorial Luís Gama (antirracismo) do Livres, presidente do PSDB de Curitiba e obreiro da loja Cavaleiros da Arte e da Ciência, a respeito da comemoração do Dia da Consciência Negra. Confira!

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(Foto: https://www.eusoulivres.org/)


1. O racismo no Brasil tem sido um grande problema desde a era colonial e escravocrata, imposto pelos colonizadores portugueses. Uma pesquisa publicada em 2011 indica que 63,7% dos brasileiros consideram que a raça interfere na qualidade de vida dos cidadãos. Como você enxerga essa cenário?


Ir.'. Edson Lau: O que está pesquisa cita é só um recorte do que eu chamo (num conceito emprestado do Malcolm X) de “cidadania de segunda classe” legada aos afrodescendentes no Brasil. Temos pouco mais de 500 anos de história e destes mais de 300 foram baseados numa cultura escravocrata que sempre lançou mão do instrumento de desumanização dos escravizados, a fim de justificar a violência praticada. Por óbvio que muito dessa mentalidade ainda permanece arraigada em instituições e indivíduos de modo estrutural, isso reflete em educação, saúde e emprego de menos, enquanto sobra fome, violência e vulnerabilidade para a imensa maioria da população brasileira.


Não é possível mais no Brasil de 2021 termos tão poucas mulheres, negros e indígenas no Congresso Nacional. Enfim, um Congresso que não reflete os recortes populacionais, certamente faltará na formulação de políticas públicas.


2. A pesar de fazerem parte de mais de 50% da população (entre pretos e pardos), os negros representam apenas 20% da produção do produto interno bruto (PIB) do país. Quais são, do seu ponto de vista, as razões dessa situação? Há racismo estrutural?


Ir.'. Edson Lau: A desigualdade racial no Brasil é brutal, como disse anteriormente o acesso a serviços públicos de qualidade é negado à população não-branca do Brasil. Se políticas de saúde, educação e emprego não entram pela porta da frente, a segurança pública invariavelmente chegará… Tudo isso é reflexo sim do racismo estrutural uma doença crônica da nossa sociedade.


3. Existem muitos mitos a respeito do racismo, o que termina por atrapalhar a luta contra discriminação racial. Que mitos você pode desconstruir neste momento?


Ir.'. Edson Lau: Cito o mito da democracia racial, como se todos no Brasil vivêssemos harmonicamente sem conflitos e tensões provocadas pelo racismo. Outro mito é o de que falar sobre racismo só aumenta este sentimento. Muito pelo contrário em ambos os casos, nunca houve democracia racial num país que nem cidadania plena dá a seu povo. Falar sobre o racismo é importante pois coloca um espelho ante à pessoas que tem atos e falas racistas, claro que isso causa reação e resistência, mas a ideia é de fato mudar uma cultura de radianos secular para isso, não podemos fingir que o problema não existe. Para nós, não fazer nada não é opção.


4. Parece haver uma distância entre a formulação e discussão de Políticas Públicas e a aplicação da Lei? Como a cidadania pode envolver-se nestas discussões?


Ir.'. Edson Lau: O distanciamento do Poder Legislativo, especialmente do federal, é outro problema crônico do Brasil, por diversos motivos, muitos passam pelo sistema eleitoral, que projeta um Congresso que sub-representa a população. A classe política precisa entender que o corporativismo de Brasília, cada vez mais causa repulsa na população. Precisamos radicalizar a democracia: mudar o sistema eleitoral e favorecer a representatividade. Não é possível mais no Brasil de 2021 termos tão poucas mulheres, negros e indígenas no Congresso Nacional. Enfim, um Congresso que não reflete os recortes populacionais, certamente faltará na formulação de políticas públicas.


Sobre a execução, vejo que temos sérios problemas no Poder Executivo federal que retrocedeu ou congelou praticamente todos os lentos avanços obtidos desde a Constituição de 1988, o SINAPIR, por exemplo, precisa ser implementado e vitaminado, outro ponto é a insustentabilidade de um presidente da Fundação Palmares que vive para aparecer em cima de polêmicas e negacionismo.


Já a participação se dá na sociedade civil, temos várias instituições do movimento negro no Brasil e também vale ressaltar o controle social, que apesar de ser um modelo que precisa ser melhorado tem sua importância e é um espaço fundamental de proposições e diálogo.


5. A maçonaria ao longo da sua história tem lutado ferrenhamente contra a discriminação racial. Nomes como Luís Gama surgem na memória logo de cara; mas na atualidade a maçonaria tem feito o suficiente ou podemos fazer mais? E como?


Ir.'. Edson Lau: Sinceramente vejo que a Maçonaria poderia fazer mais, começando pela baixa participação de negros, conta-se nos dedos os obreiros negros nas lojas, quando estes existem. E é a mesma situação que falei sobre o Poder Legislativo, não dá pra esperar sensibilidade sem representatividade e participação.


6. A Igualdade e Justiça Social tornou-se meta da ONU até 2030; alvo e compromisso que o GOB-PR e Loja Cavaleiros da Arte e da Ciência tem assumido também... Como trazer essas discussões dentro das nossas lojas?


Ir.'. Edson Lau: Incentivar o resgate histórico de figuras como Luiz Gama e André Rebouças pode servir como reflexão para a Ordem, bem como uma imersão sincera nos rituais. No caso da CAC, o Rito Moderno facilita demais a promoção deste debate, não podemos esquecer que o artigo 1º da Constituição do GOB fala que a Maçonaria é (entre outros) evolucionista, ou seja não é pra ficar parado na história, pelo contrário, a Ordem deve ser motor da história, aprofundar debates a ações antirracistas. Buscar estar na vanguarda é também desbastar a pedra bruta.


7. Finalmente, à luz da notável biografia de homens e maçons como Luís Gama (e você comentou anteriormente), como podemos continuar a exercer nosso compromisso cidadão por uma sociedade mais justa, livre, igualitária e fraterna?


Ir.'. Edson Lau: Luiz Gama nasceu livre, foi vendido como escravo pelo pai, por causa de uma dívida de jogo. Estudou, conquistou sua liberdade, se tornou o “advogado dos escravos” e libertou centenas de seus irmãos de cor. Essa é só a sinopse de uma história que daria um baita filme hollywoodiano. Em seu velório, o “amigo de todos”, como era conhecido, a cidade de São Paulo parou, cerca de 10% da população compareceu e levou seu caixão de mão em mão, da sua casa até o Cemitério da Consolação. Não digo que todos temos que ser notáveis e populares como Luiz Gama, mas uma biografia dessas serve demais como inspiração para qualquer um.



(Entrevista realizada pelo Ir.'. Isaac B. Poblete)



Confira o último artigo escrito pelo Ir.'. Edson Lau CLICANDO AQUI!



SOBRE O ENTREVISTADO.


Edson Lau é M.'.M.'. da ARLS Cavaleiros da Arte e da Ciência 4459, exercendo o cargo de Secretário na atual gestão. Radicado em Curitiba, Edson tem histórico de trabalho comprovado na administração pública. O coordenador tem experiência nas áreas de Ciência Política, Assuntos Governamentais, Desenvolvimento da Juventude, Marketing Digital, Relações Institucionais, História e capacidade de liderança de equipes.

Lau já foi Assessor Especial de Políticas Públicas para a Juventude no Governo do Estado do Paraná e Assessor Técnico da Secretaria Municipal do Esporte, Lazer e Juventude na Prefeitura Municipal de Curitiba, Presidente do Conselho Estadual de Juventude, Vice-Presidente do Conselho Estadual de Promoção à Igualdade Racial e membro do Conselho Nacional de Juventude.

 
 
 

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